terça-feira, 2 de setembro de 2014

Risco-Marina sobe após propostas erráticas e previsão de Cid Gomes

2/9/2014 14:12
Por Redação, com Carta Maior - de Brasília


Cid Gomes
O governador Cid Gomes disparou contra Marina
A bolha eleitoral que se formou em torno da candidatura da ex-ministra Marina Silva (PSB/Rede Sustentabilidade), provocada por resultados impactantes nas últimas pesquisas de intenção de voto, recebeu sua estocada mais contundente nesta terça-feira, após o governador do Ceará, Cid Gomes (Pros), disparar suas considerações acerca desta candidatura. Cid se diz preocupado com o crescimento da presidenciável nas pesquisas e definiu Marina como “conservadora e reacionária”. Uma “canoa furada”. Para Cid Gomes, Marina não fica mais de dois anos no governo, caso seja eleita.
– Se as pessoas não se tocarem, vão eleger Marina Silva presidente da República. Meu Deus! A gente não pode com um gesto de protesto, induzido pela grande mídia, dar o poder para banqueiros e meia dúzia de poderosos – disparou o governador, que se desfiliou da legenda no ano passado por não concordar com a candidatura de Eduardo Campos às Presidência.
Cid Gomes afirmou que Marina tenta passar imagem de progressista, mas é “religiosamente o que há de mais conservadora e reacionária”.
– Eu não dou dois anos de governo para Marina. Ela será deposta, pode escrever o que estou dizendo. Me impressiona a proposta de autonomia do Banco Central. Sabe o que significa? Entregar aos bancos o poder de arbitrar os juros. Dizer quanto o capital financeiro quer ganhar – pontua o governador, na manhã seguinte ao debate entre presidenciáveis no canal de TV SBT.
Jogou a toalha
No debate, além das propostas ‘genéricas’ de Marina, como afirmou a presidenta e candidata petista Dilma Rousseff, o candidato Aécio Neves (PSDB) pareceu mesmo ter desistido da disputa. Pareceu ter aceitado que está fora do 2º turno e já trabalha para deixar claro a que irá prestar seu apoio à candidata Marina que, para surpresa dos desavisados, está a cada dia mais parecida com ele próprio, assumindo a defesa de bandeiras típicas do neoliberalismo e usando o artifício de falar muito e não dizer nada para sair das saias justas.
Relegado ao segundo plano, Aécio destinou sua munição a desgastar a imagem da presidenta Dilma, fazendo a defesa de princípios compartilhados com Marina, como a defesa da autonomia do Banco Central (BC). E em solidariedade à candidata do PSB que vem mudando seu programa freneticamente para agradar gregos e troianos, ele também se posicionou contrário ao aborto. Defendeu propostas que tanto podem ser tocadas por ele, um neoliberal convicto, quanto por ela, uma neoliberal recém-convertida.
Esquivou-se como pode das reais polêmicas que o atingiram. Fez contorcionismo para evitar o assunto quando foi questionado pelo candidato Eduardo Jorge (PV) se iria baixar os juros, por meio da redução da taxa Selic. E quando confrontado pelo jornalista Kennedy Alencar com a evidencia de que os muitos escândalos de corrupção envolvendo o PSDB continuam sem punição – como a compra de votos para a reeleição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o mensalão mineiro e o caso do metrô de São Paulo – se fez de surdo.
– A marca do PSDB é a marca da austeridade – garantiu.
Marina, por sua vez, mirou quem de fato lhe faz oposição programática. E inovou ao disparar seu arsenal contra Dilma: para justificar porque apoiou e participou como ministra do Meio Ambiente do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, agora, refuta com tanta veemência quaisquer iniciativas de Dilma, decidiu isolar os dois governos, como se não guardassem nenhum grau de semelhança ou continuidade. No discurso pouco claro de Marina, o governo Lula foi uma coisa e o de Dilma outra, completamente diferente, como se o eleitor não tivesse memória ou bom senso.
Quando a candidata Luciana Gerno (PSOL) questionou se ela seria “a segunda via do PSDB”, Marina se desmanchou em elogios aos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). E voltou a insistir no recurso retórico de pregar que, na nova política, prevalecerão as boas ideias e as boas cabeças, independentemente de partidos e posturas ideológicas, como se fosse possível agradas a todos. “Quando se faz política, é preciso escolher um lado”, cobrou Luciana. No geral, Marina manteve sua postura de falar muito e não dizer nada. Muitas frases de efeito, e poucas respostas precisas. Pressionada a explicar porque não revela a origem dos R$ 1,6 milhão que recebeu fazendo palestras nos últimos anos, sugeriu que os eleitores comparassem as suas fontes de financiamento com as que também sustentam as palestras proferidas pelos ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso. Como se isso fosse possível, dado que continuou sem revelar quem são as empresas que lhe pagaram valor tão alto.
Promessas sem compromisso
Atacada por todos os lados, Dilma Rousseff também investiu em por evidenciar as contradições do discurso da sua principal adversária, que não são poucas.
– Candidata, a senhora diz que vai antecipar 10% do PIB para a Educação (R$ 70 bilhões), 10% da receita bruta para a saúde (R$ 40 bilhões), passe livre estudantil (R$ 14 bilhões), mais dinheiro para os municípios (R$ 9 bilhões) e várias outras promessas. Todas essas suas promessas dá R$ 140 bilhões. Dá onde a senhora vai arranjar o dinheiro para cobri-las? – questionou Dilma.
Marina disse que não faz promessas, mas compromissos. E continuou sem revelar de onde extrairá os recursos necessários. Dilma tripudiou ao lembrar que o valor prometido pela adversária é quase tudo que se gasta em saúde e educação.
– E olha que nós triplicamos o valor gasto em educação e quase dobramos o gasto em saúde, apesar de termos perdido a CPMF”, complementou. “O cobertor é curto”, disparou Dilma mais tarde, ao retomar o assunto, com a autoridade que quem sabe que governar um país é fazer escolhas – acrescentou.
A presidenta também criticou Marina pelo desprezo ao pré-sal, uma riqueza invejada pelo resto do mundo. Segundo Dilma, o programa de Marina tem 242 páginas e fala do pré-sal em apenas uma. “Por quê o desprezo pelo pré-sal?”, questionou a presidenta.
– O pré-sal deve ser explorado, e nós vamos combinar com outras fontes de energia (…) O pensamento da ideia cartesiana do governo só avança numa direção – rebateu Marina.
Nervosa
A polarização já evidente entre as duas candidatas que se solidificam no segundo turno rendeu outros bons embates. Marina ganhou na simpatia. Dilma, nos argumentos. Rebatendo as críticas de Marina aos resultados da economia neste terceiro trimestre, Dilma contra-atacou:
– Um diagnóstico errado vai levar a um caminho errado. Propor como forma de solucionar o problema da economia no Brasil a autonomia do banco central só levará a maior dificuldade na regulação do sistema financeiro, o quê, aliás, foi um dos pontos centrais quando houve a crise do mercado internacional.
Embora tenha revelado que estava nervosa, a presidenta estava firme nas perguntas e pouco evasiva nas respostas. Enfrentou com dados e números todas as saias justas que os adversários tentaram lhe colocar. Mas Marina não se deu por vencida e acusou a presidenta de não reconhecer os erros do seu governo. Também não deixou claro, como é seu costume, quais erros seriam esses.

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