quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Ciro aconselha Dilma a governar com a esquerda, em ‘melhores companhias’

6/11/2014 13:11
Por Redação - de São Paulo

Ciro Gomes
Ciro, irmão do governador Cid Gomes, fez a campanha de Dilma no Nordeste

Ex-ministro no governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-governador cearense Ciro Gomes – um dos principais líderes do partido PROS – sinaliza que a presidenta reeleita, Dilma Rousseff, está diante de uma encruzilhada e sua melhor alternativa é o socialismo. 
Irmão de Ciro, o atual governador do Ceará, Cid Gomes, apresentou a Dilma a proposta de criação de uma frente de esquerda, que poderá se transformar até em um um novo partido de apoio a governo, para garantir a governabilidade no segundo mandato.
Em artigo publicado nesta quinta-feira, na página da revista Carta Capital, na internet, Ciro Gomes não poupa críticas à base de sustentação do governo, no Congresso, e à equipe com a qual ela governou ao longo dos últimos quatro anos. Intitulado Dilma precisa de melhores companhias, Ciro afirma ser “incrível que ela (Dilma) tenha escapado da derrota com a equipe que montou no governo”.
“O submundo do mercado e da política não deram à reeleita Dilma Rousseff nem 24 horas de trégua. E não haverá paz. Isso significa duas coisas neste momento: há muito pouco tempo para o novo governo se iniciar (o calendário gregoriano pouco importa aqui) e tudo o que ela não deve nem pode fazer, sob pena de se desconstituir muito rapidamente, é tomar iniciativas atabalhoadas que simbolizem uma rendição deslegitimadora a uns ou a outros. A alta dos juros básicos da economia, estabelecidos pelo Banco Central, na quarta-feira 29 foi péssimo sinal. Aumentar a gasolina neste contexto, fatal. Negociar com a escória que vota contra o governo na Câmara dos Deputados, e, logo, logo, no Senado, em seus termos e por meio da pedagogia da chantagem, será mortal”, afirma o ex-governador.
Ciro Gomes acredita que não exagera “em nenhum desses argumentos”. Dilma Rousseff, afirma, “só venceu as eleições pelo fato de a maioria precária de nós, brasileiros, perdoarmos as graves contradições de sua governança e, especialmente, de sua condução da economia”.
“E o fizemos por argumentos de duas ordens: confiamos em sua boa-fé e decência pessoal, vis-à-vis a crônica de desmandos e escândalos magnificados pelos sócios majoritários da imoralidade pátria, especialmente na grande mídia. E, acima de tudo, penso eu, por percebermos que, por trás de tudo, é possível enxergar que a “turma” que Dilma de fato representa, apesar de sua mania de andar mal-acompanhada, os valores mais importantes para o povo: o compromisso nacional, o trabalho como bem central em uma nação civicamente sadia, o compromisso moral com a superação da vergonhosa desigualdade que nos aparta (de um lado, uma elite minúscula, mas aferrada a uma cultura escravocrata, de outro, imensas maiorias excitadas com informação globalizada de um padrão de consumo ao qual não conseguem ascender com o pouco que evoluíram). Não é o suficiente para sustentar um novo governo com os problemas graves e urgentes no horizonte, mas é suficiente para recomendar: nesses valores, e não naqueles dos reacionários, Dilma precisa escorar-se para enfrentar a difícil tarefa que lhe espera”, acrescenta.
O ex-governador do Ceará aponta “algumas obviedades, outras nem tanto: equipe, agenda, foco, amor ao resultado, urgências”. Na opinião dele, “nada disso caracterizou o governo que se ‘encerrou’. Na verdade é incrível que Dilma tenha escapado da derrota com a equipe (salvemos as raríssimas exceções) inacreditável com que governou. E o problema não é a conciliação com picaretas bem-recomendados pela ‘base’, enquanto a presidenta faz, repleta de sinceridade, um discurso moralista”.
“Crise mesmo não é, porém, aquela essencialmente política, embora possa ser igualmente complexa. A crise potencialmente explosiva é a econômica. O país tem sido administrado da mão para a boca e nossas margens se estreitam de forma muito grave. Também aqui não creio exagerar. O ano de 2015 já será difícil se for feito tudo o que é preciso. E será pior se nada for feito. Alguns números para embasar as minhas preocupações: o desequilíbrio nas contas correntes do Brasil com o exterior é o maior da história e tende a aumentar (US$ 86 bilhões). A balança comercial de produtos manufaturados (diferença entre o que compramos e vendemos no mercado internacional no setor industrial) alcança US$ 106 bilhões. As contas fiscais se deterioraram aceleradamente nos últimos meses e a reversão pela via conservadora e não seletiva levará inevitavelmente à recessão”, pontua.
Ex-ministro da Fazenda, Ciro constata que “do câmbio vem uma pressão inflacionária, da área fiscal, uma pressão recessiva”:
“Primeiro efeito: estagflação. Resultados mais graves: o estreitamento da margem para os ganhos salariais e, no médio prazo, para a manutenção do nível de emprego. Se acontecer, os fundamentos centrais do novo e precário contrato político de Dilma Rousseff com a maioria será atingido. Para tudo há solução. Nenhuma delas mágica, acredito. Mas nenhuma produzida a partir da prostração ideológica que caracterizou a campanha eleitoral. Fora do trivial cardápio moralista, discutiram-se apenas as nuances de conservadorismo”.
“A presidenta precisa desinterditar o debate, chamar a inteligência brasileira e pedir que todos deixem suas certezas na porta de entrada e, livres de preconceitos, produzam uma ideia comovente ao país. Uma economia política inteligente guiada pelo pragmatismo na superação de nossos desequilíbrios. Um projeto de nação que coloque todo e qualquer sacrifício na perspectiva de uma construção de futuro. Não duvide: se Dilma temer os riscos e preferir as acomodações que se planejam para ela e seu tempo precário… Bem, Deus proteja o Brasil”, conclui.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Cid Gomes sugere fusão de partidos para reforçar base de apoio a Dilma

Governador do Ceará diz que vai articular criação de bloco na Câmara.
Objetivo é tentar enfraquecer o chamado ‘blocão’ liderado pelo PMDB.

Filipe Matoso Do G1, em Brasília
O governador do Ceará, Cid Gomes, concede entrevista após se reunir com a presidente Dilma Rousseff no Palácio do Planalto (Foto: Filipe Matoso / G1)O governador do Ceará, Cid Gomes, conversou com jornalistas após se reunir com Dilma no Palácio do
Planalto (Foto: Filipe Matoso / G1)

Na tentativa de enfraquecer a influência do "blocão" liderado pelo PMDB, o governador do Ceará, Cid Gomes, sugeriu nesta terça-feira (4) a fusão de partidos que compõem a base aliada da presidente Dilma Rousseff para reforçar o apoio à petista em votações na Câmara e Senado.
Após se reunir com a presidente reeleita no Palácio do Planalto, Gomes também anunciou que articulará, imediatamente, a criação de uma frente parlamentar governista para desidratar o grupo de legendas que se uniu para ampliar o poder de negociação com o Executivo em votações da Câmara. Segundo o governador, a ideia é formar um bloco parlamentar com força sufiente para anular “pressões e chantagens” contra a presidente da República.
Cid Gomes afirmou que, para ter "relevo" na Câmara, a frente parlamentar favorável ao governo federal deveria reunir cerca de 50 parlamentares.
“Isso [a criação de uma frente na Câmara] tem que ser discutido para que a gente aprimore e veja a melhor estratégia. O melhor, para mim, seria, inicialmente, compor a frente e que ela possa evoluir, na sequência, a um partido novo. Um partido que resulte da fusão de alguns partidos”, explicou o governador do Ceará.
Apesar de, formalmente, fazer parte da base governista, o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), negociou na semana passada com lideranças de PTB, PSC, PR e SD a criação de um bloco parlamentar para aumentar o poder de barganha com o Planalto.
Dois dias após a reeleição de Dilma, o bloco liderado por Cunha ajudou a oposição a impor uma derrota à petista no Legislativo, com a derrubada do decreto elaborado pela Presidência que estabelece a consulta a conselhos populares por órgãos do governo antes da implementação de políticas públicas.
Fusão
Ao ser questionado sobre quais partidos poderiam se unir para dar origem a um novo partido, Cid Gomes ponderou que, na opinião dele, deveriam ser legendas com ideologia de esquerda. Ele citou PDT e PCdoB como exemplos de siglas que poderiam se fundir para reforçar o apoio à gestão Dilma. Ele também ressaltou que parlamentares insatisfeitos com PSB e PSOL poderiam reforças as fileiras do eventual partido.

"Eu acho que é fundamental que ela [Dilma] possa ter, além do PT, dois partidos ou frentes fortes que possam ajudá-la na governabilidade. […] Eu penso que esse movimento, de ter uma frente ou um partido de centro para além do PMDB e um partido ou frente à esquerda, ajuda na governabilidade e reduz o espaço da pressão que muitas vezes beira até a chantagem”, completou.
A jornalistas, Cid Gomes não quis comentar quais foram as opiniões da presidente sobre a formação da frente ou a fusão dos partidos. O governador do Ceará, que deixará o cargo em dezembro deste ano, disse que seria “indelicado” manifestar o posicionamento de Dilma.
Gomes disse avaliar que, nos próximos dois meses, a presidente passe por "grandes dificuldades" em razão de "sentimentos raivosos e de vendeta". "Dos que querem prejudicá-la, prejudicar o país, prejudicar o governo e eu quero ajudá-la nisso, me coloquei à disposição", completou.
Novo governo
Questionado sobre se discutiu com a presidente reeleita uma possível participação no novo governo, Cid Gomes afirmou não ser candidato a ministro. De acordo com ele, cabe à chefe do Executivo decidir sobre quem irá chefiar as pastas a partir de 2015.

“O meu projeto, na linha onde tenho trabalhado, é ir para o Banco Interamericano, passar uma temporada nos EUA como consultor do banco”, disse o governador cearense. Ao ser indagado sobre se poderia assumir o Ministério da Educação, Gomes afirmou que não irá comentar especulações.