segunda-feira, 3 de julho de 2017

Poder Judiciário aprova o fechamento de 34 comarcas no Ceará

Comarcas desativadas deverão ser 'anexadas' a outras de cidades maiores.

 

Desativação de 34 comarcas do Ceará que deverão ser "anexadas" a outras de cidades maiores, concentrando a prestação jurisdicional nas comarcas sede e desativando os fóruns das comarcas vinculadas. São as principais mudanças do Plano de Reestruturação do Poder Judiciário do Ceará votado nesta segunda-feira (3), pelo Pleno do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE).

Com votação unânime, o plano deverá ser encaminhado para apreciação do Poder Legislativo e, se aprovado, para a sanção do Governador do Ceará, Camilo Santana.
Com essa medida as comarcas de Abaiara, Alcântaras, Altaneira, Apuiarés, Arneiroz, Banabuiú, Catunda, Choró Limão, Deputado Irapuan Pinheiro, Ererê, General Sampaio, Grangeiro, Guaramiranga, Ibaretama, Itaiçaba, Jaguaribara, Martinópole, Milhã, Miraíma, Moraújo, Pacujá, Palhano, Paramoti, Penaforte, Pires Ferreira, Potengi, Potiretama, Salitre, São João do Jaguaribe, Senador Sá, Tarrafas, Tejuçuoca, Tururu e Umari passariam a figurar como termos judiciários. Por outro lado, seria implantada a Comarca de Ocara.

Para o desembargador Gladyson Pontes, o objetivo final de garantir o pleno acesso do cidadão à Justiça será intensificado. “Fiz a minha parte, na condição de gestor público. Vamos otimizar a prestação jurisdicional. Não fizemos nada sem pensar no jurisdicionado, razão maior da nossa atuação”, destacou. Segundo o TJ, as limitações orçamentárias do estado determinou congelamento dos gastos públicos e, consequentemente, “a necessidade de racionalização da estrutura judiciária para fazer frente à nova realidade”.


O advogado Marcelo Mota, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – seccional Ceará (OAB-CE), se disse contrário à transformação das comarcas vinculadas (que funcionam sem estrutura funcional própria, atrelada a uma comarca de maior porte) em termos judiciários. O mesmo posicionamento da presidente da Associação dos Defensores Públicos do Ceará, Ana Carolina Gondim.

“Peço uma reflexão. Que não seja esse Tribunal, composto por homens e mulheres, do mais elevado grau de intelectualidade, de compromisso com a Justiça, de dignidade, a fazer com que aquele sertanejo, aquele jurisdicionado, que se encontra nos locais mais distantes do Estado, seja desestimulado a buscar a tutela dos seus direitos, seja tolhido do acesso do Poder Judiciário. Sejam, por gentileza, sensíveis”, alerta Marcelo Mota.
Em nota, a Associação do Advogados Criminalistas critica as medidas apresentadas pelo TJ. "A decisão anunciada pela Presidência do Tribunal de Justiça trará grande impacto para o jurisdicionado, pelo que é indispensável que o tema seja debatido e analisado pela sociedade. É assim que as instituições devem se comportar nos regimes democráticos e republicanos. Fechar comarcas, o que é uma decisão radical, sob o argumento de que não há recursos, sem antes discutir com a sociedade as prioridades do orçamento, é medida ilegítima e pouco republicana."


"Vamos à Assembleia reafirmar o nosso compromisso com os destinos do nosso Tribunal, defendendo a manutenção das comarcas e o fim dos privilégios", conclui a nota, assinada por seu presidente, o advogado Cândido Albuquerque.


Também foi aprovado o rezoneamento do território do Estado para fins de organização judiciária, ampliando as atuais 9 para 14 zonas judiciárias. Com a medida, passam a ser sedes de zonas judiciárias as comarcas de Itapipoca, Baturité, Camocim, Aracati, Canindé e Tauá. Já as 5ª e 6ª zonas judiciárias, que abrangem comarcas da Região Metropolitana de Fortaleza, serão unificadas dando origem à 5ª ZJ, com sede em Caucaia, abrangendo os municípios da Grande Fortaleza.
Treze das 39 Varas Cíveis da Comarca de Fortaleza serão transformadas em Varas de Demandas em Massa. Com a medida, serão criadas quatro Varas Cíveis para causas de DPVAT; cinco Varas Cíveis para causas Revisionais de Contrato Bancário e Busca e Apreensão; e quatro Varas Cíveis para Execuções de Título Extrajudiciais.
Vinte e cinco comarcas serão transferidas, em razão de registraram média de distribuição de casos novos, no último triênio, inferior a 50% da média de casos novos por juiz do TJ. Com isso, serão transferidas as comarcas de Acarape, Antonina do Norte, Ararendá, Aratuba, Baixio, Barroquinha, Cariús, Carnaubal, Croatá, Cruz, Fortim, Frecheirinha, Graça, Groaíras, Ibicuitinga, Ipaporanga, Jati, Meruoca, Mulungu, Palmácia, Piquet Carneiro, Poranga, Porteiras, São Luís do Curu e Uruoca. Além disso, a 2ª Vara da Comarca de Várzea Alegre criada em 2009, mas ainda não instalada, também será transferida.


O desembargador Mário Parente Teófilo Neto sugeriu a manutenção dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais (JECCs) de Icó, Baturité, Aquiraz e Senador Pompeu. A desembargadora Francisca Adelineide Viana defendeu a transformação da Vara Única de Trânsito de Fortaleza em 4ª Vara de Tráfico de Drogas da Capital. As sugestões dos dois desembargadores foram anexadas ao projeto e aprovadas.

 


Postado por: Giovana M. de Araújo

segunda-feira, 3 de abril de 2017

'Golpistas da seca' lesam sertanejos no CE prometendo serviços e seguros

Moradores relatam ter sido vítimas de estelionatários.
Há denúncias de que entregadores de água burlam sistema de GPS.


Sem produção por causa da seca, Francisco de Assis levou meses para juntar R$ 100 para fazer um suposto seguro. A promessa era de ele receberia R$ 500 caso perdesse a safra em 2016. Assis foi vítima de um golpe e ficou sem o dinheiro e teve mais uma ano d (Foto: André Teixeira/G1)

"Em 2016, tivemos o ano mais difícil em mais de 40 anos que eu cuido dessa fazenda. Um homem que dizia ser do governo pediu R$ 100 para fazer um seguro de safra, dizendo que a gente recebia R$ 500 em julho. Nós passamos muito tempo para juntar o dinheiro porque não tivemos colheita, e o gado que dava pra vender já estava todo vendido. Esse homem sumiu, e o dinheiro foi todo perdido", relata Francisco de Assis de Freitas, de 55 anos. 

Freitas é morador do distrito de Califórnia, na zona rural de Quixadá, no Sertão Central cearense. A vizinha dele, Maria Fernandes da Silva, relata que foi vítima de um golpe semelhante, de um suposto agente do Bolsa Família que prometia aumentar o benefício do programa para pessoas que sofriam com a estiagem.

"A história que ele contava é que ia aumentar o Bolsa Família, a gente ia receber R$ 80 a mais por mês, aí, pra isso, ele precisava fazer um cadastro da gente, e esse cadastro era R$ 30 por pessoa. Só aqui na Califórnia, dos que eu sei, ele enganou mais de 15 pessoas com esse cadastro."
O produtor José Filho chegou a ter 90 cabeças de gado há cinco anos, antes da pior seca do Ceará em 100 anos, hoje ele tem menos de 10. Sem condições de manter o gado, eles foram vendidos para o abate por menos da metade do preço. As chuvas desse ano aind (Foto: Andre Teixeira/G1)O produtor José Filho chegou a ter mais de 100 cabeças de gado há cinco anos, antes da pior seca do Ceará em 100 anos; hoje ele não tem nada. Sem condições de manter o gado, vendeu para o abate por menos da metade do preço. 
O titular da Delegacia de Defraudações e Falsificações, Jaime de Paula, explica que esse crime se configura como estelionato, com pena prevista de um a cinco anos de prisão. "Em alguns casos, dependendo da forma como ele aplica o golpe, ele pode se enquadrar também na falsidade ideológica, porque é comum eles se passarem por falsos agentes", explica o delegado.

A delegacia de Quixadá tem conhecimento dessas práticas ilegais, mas afirma que tem dificuldade em investigar porque, na maioria dos casos, não há registro da denúncia, e os golpes são aplicados em regiões distantes do centro urbano. "Eles são pessoas que vêm de outras cidades para aplicar os golpes nas áreas mais distantes. Quando a gente ouve o relato, depois de dias, eles [estelionatários] já estão longe. São os golpistas da seca", afirma.


Postado por Giovana M. de Araújo