segunda-feira, 3 de abril de 2017

'Golpistas da seca' lesam sertanejos no CE prometendo serviços e seguros

Moradores relatam ter sido vítimas de estelionatários.
Há denúncias de que entregadores de água burlam sistema de GPS.


Sem produção por causa da seca, Francisco de Assis levou meses para juntar R$ 100 para fazer um suposto seguro. A promessa era de ele receberia R$ 500 caso perdesse a safra em 2016. Assis foi vítima de um golpe e ficou sem o dinheiro e teve mais uma ano d (Foto: André Teixeira/G1)

"Em 2016, tivemos o ano mais difícil em mais de 40 anos que eu cuido dessa fazenda. Um homem que dizia ser do governo pediu R$ 100 para fazer um seguro de safra, dizendo que a gente recebia R$ 500 em julho. Nós passamos muito tempo para juntar o dinheiro porque não tivemos colheita, e o gado que dava pra vender já estava todo vendido. Esse homem sumiu, e o dinheiro foi todo perdido", relata Francisco de Assis de Freitas, de 55 anos. 

Freitas é morador do distrito de Califórnia, na zona rural de Quixadá, no Sertão Central cearense. A vizinha dele, Maria Fernandes da Silva, relata que foi vítima de um golpe semelhante, de um suposto agente do Bolsa Família que prometia aumentar o benefício do programa para pessoas que sofriam com a estiagem.

"A história que ele contava é que ia aumentar o Bolsa Família, a gente ia receber R$ 80 a mais por mês, aí, pra isso, ele precisava fazer um cadastro da gente, e esse cadastro era R$ 30 por pessoa. Só aqui na Califórnia, dos que eu sei, ele enganou mais de 15 pessoas com esse cadastro."
O produtor José Filho chegou a ter 90 cabeças de gado há cinco anos, antes da pior seca do Ceará em 100 anos, hoje ele tem menos de 10. Sem condições de manter o gado, eles foram vendidos para o abate por menos da metade do preço. As chuvas desse ano aind (Foto: Andre Teixeira/G1)O produtor José Filho chegou a ter mais de 100 cabeças de gado há cinco anos, antes da pior seca do Ceará em 100 anos; hoje ele não tem nada. Sem condições de manter o gado, vendeu para o abate por menos da metade do preço. 
O titular da Delegacia de Defraudações e Falsificações, Jaime de Paula, explica que esse crime se configura como estelionato, com pena prevista de um a cinco anos de prisão. "Em alguns casos, dependendo da forma como ele aplica o golpe, ele pode se enquadrar também na falsidade ideológica, porque é comum eles se passarem por falsos agentes", explica o delegado.

A delegacia de Quixadá tem conhecimento dessas práticas ilegais, mas afirma que tem dificuldade em investigar porque, na maioria dos casos, não há registro da denúncia, e os golpes são aplicados em regiões distantes do centro urbano. "Eles são pessoas que vêm de outras cidades para aplicar os golpes nas áreas mais distantes. Quando a gente ouve o relato, depois de dias, eles [estelionatários] já estão longe. São os golpistas da seca", afirma.


Postado por Giovana M. de Araújo

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